Amor em termos técnicos

Artigo: Amor em termos técnicos - por Jussara Hadadd

Artigo: Amor em termos técnicos - por Jussara Hadadd

Uma noite toda planejada. O jantar seria à luz de velas e no cardápio espaguete ao alho e óleo. Espaguete ao alho e óleo para um jantar romântico seguido de uma noite de amor?

Bom, mas não fosse isso a se estranhar, Claudete, que contava a história da noite que vivera com Vanderlei, relatava detalhes que iam do toque da campainha ao uso da camisinha. Claudete era amiga de minha mãe e tal fato acontecera nos anos 1980 e fez muita gente rolar de tanto rir, inclusive eu.

Vanderlei e Claudete se conheceram na rua onde ela morava. Ele era bonito, mais novo que ela cerca de 20 anos e foi mesmo de causar espanto o encontro deles. A cidade era pequena e em cidades assim… Contou pra um, todo o resto fica sabendo.

Ela estava envaidecida. Era solteira, namoradeira, paquerava todo mundo, contudo não era lá uma senhora muito atraente e o jeito era bem esquisito. Lembro-me várias vezes de ter perguntado a minha mãe se ela tinha algum problema. Minha mãe dizia que ela era só um pouco mais devagar. Falava meio mole, sua pele era oleosa, seus cabelos também. Usava um “Keds” branco que não tirava do pé. Só Deus sabe o que acontecia quando ela o tirava.

Vanderlei não sei dizer… Minha mãe dizia que era meio oportunista. Bonitão, entretanto não trabalhava, não estudava e não queria saber de nada sério com ninguém.

O papo começou com Claudete falando mole. Sempre mole. Imaginem isto quando for a fala dela.

‒ Vandinha, você nem acredita quem foi jantar comigo ontem. Eu convidei e ele foi. Vanderlei. Planejei uma linda noite para nós… Mas nem te conto.

‒ O que, Claudete… me conta tudo direitinho. Como assim?

‒ Foi. Ele chegou às oito horas. Conversamos um pouco, abrimos uma garrafa de vinho e eu fui para a cozinha preparar o nosso jantar. Piquei o alho, um pouco de cebola, cozinhei o espaguete, escorri, refoguei e lá pelas 9h 30min servi o jantar. Ele ficou na sala vendo TV e me esperando.

‒ Claudete, você foi preparar o jantar? Picou alho, cebola, jogou o macarrão no óleo? Claudete, você deve ter ficado com uma aparência e um cheiro de cozinheira que ninguém merece, amiga!

‒ Ah, mas em filme americano elas fazem tudo na hora.

‒ Ah, Claudete, mas é filme e no máximo elas fazem uma saladinha. Tá, mas isso não vem ao caso, conta o resto.

‒ Ai, Vandinha, (falando mole) nós degustamos o nosso jantar, tomamos toda a garrafa de vinho e ele veio se sentar mais perto de mim. Abraçou-me, me beijou, me acariciou em zonas erógenas, desabotoou minha blusa e me chamou para irmos ao meu quarto. Eu estava no céu quando de repente, bem na hora do “ato”…

‒ Que “ato”, Claudete? Como assim?

Vandinha já estava ansiosa.

‒ Na hora do “ato sexual”, Vandinha.

Nessa hora lembrei-me de um detalhe muito importante e perguntei a ele: “Vanderlei, você trouxe os preservativos de borracha?

‒ PRESEVATIVOS DE BORRACHA?! Claudete, onde você está com a cabeça? ATO SEXUAL? De que tempo você é?

‒ Vandinha, eu não sou louca de ter relações sexuais com um moço sem usar preservativos. Claro que não.

‒ CAMISINHA, Claudete! TRANSAR, Claudete! Pelo amor de Deus, você está muito antiquada.

Claudete era lenta mesmo. Fazia que não ouvia e continuava contando. Esta conversa se passava na boutique da minha mãe e eu “de butuca” ficava só ouvindo. Rolava de rir.

‒ Vandinha, ele não tinha preservativos de borracha e aí eu parei o “ato” na hora e disse a ele que se ele quisesse continuar teria que ir à farmácia comprar e voltar. Eu o esperaria. Já eram umas 11h 30min.

‒ CLAUDETE! Que isso, você fez ele se levantar e sair? Isso foi ontem à noite, com aquele temporal? Claudete, isso não se faz.

Até certo ponto, Claudete estava certa, camisinha é imprescindível mesmo.

‒ Pois é, Vandinha. Eu não “faço” sem preservativos. Bom, aí ele se levantou e foi para a farmácia. Antes de sair, me pediu que eu aproveitasse o tempo em que ele estaria fora para tomar um banho porque eu havia cozinhado e o cheiro de tempero não o estava agradando. Onde já se viu isso? Um cheiro tão gostoso de tempero, “coisa de mulher”. Eu já tinha tomado banho à tarde.

‒ Claudete, convenhamos, cheiro de tempero para a primeira noite de amor com um homem? Bom e aí? Quando ele voltou vocês continuaram?

‒ Ele não voltou, Vandinha. Acho que ele não gostava de usar preservativos, me livrei de uma boa. Coloquei meu pijaminha pescador e fui dormir.

Sem comentários.

Um abraço.

 

Este artigo também foi publicado no portal ACESSA.COM

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