O sexo dos anjos
Solidão, tristeza, proibição, amputação, desajuste emocional, bloqueios à felicidade, complexo de inferioridade, insegurança, medo, depravação, dependência química, homossexualidade mal definida e euforia descabida. — Não, não e não minha filha. Sobre sexo, não.
Um olhar apagado, um andar desengonçado, a pele desfigurada, os cabelos sem brilho, a inapetência, o baixo rendimento escolar ou uma intelectualidade que mascara a sensualidade da menina que aprendeu a se negar. Na cabeça, uma vontade louca de amar.
Universo infinito de sonhos e fantasias. Possibilidades intermináveis de prazer. Liberação em ampla escala e um desejo latente que leva a passear por um mundo onde as nuvens encobrem os raios de sol e entre penumbras e vaporosos véus, todos os céus são alcançados em gemidos abafados, após a busca serena ou frenética, tanto faz, no silêncio do quarto violável ou sob as águas do banho vigiado pela mais deliciosa manifestação de uma existência e de uma independência. O maior dos segredos, a maior poesia, a cor mais vibrante, o sorriso sem explicação, o suspiro indecoroso.
Em dois então, quanta articulação. Quantos planos e projetos, quanta imaginação. A condição, a hora certa, o lugar. A volúpia na ânsia de amar. As mentiras mais gostosas de serem ditas e um medo arrepiante a percorrer toda a espinha e a abrir e fechar sem compasso todo o plexo solar. Come as unhas, aperta as mãos, sua o corpo, cerra os dentes, quanta expectativa. As pernas tremem, o sexo esquenta e umedece a espera de uma comunhão que não acontece nunca, que demora anos luz, que traduz a mais alta excitação advinda da proibição.
A pureza, a leveza, a ausência do medo ou o medo total a fomentar a riqueza que é o encontro de um adolescente com ele mesmo ou o encontro de um par de adolescentes, ávidos por prazer. O instinto falando alto e indicando que tudo em volta deve estar errado. Que seus pais são uns boçais que não sabem o que é viver. Já não sabem mesmo mais.
É assim, a volúpia coroada de inocência, arriscada e atirada em movimentos a favor da felicidade que um dia será podada a pretexto do que é moral para sustentar às espreitas, toda imoralidade ditada pelas regras da sociedade adulta. — Não quero esta vida para mim.
Se proibir fosse alterado pelo instruir, se instruir ditasse o caminho para a felicidade, se a felicidade fosse direcionada ao não sofrimento pela entrega desmedida, se a entrega não saísse da linha do sagrado, se a educação prezasse antes da punição a orientação à proteção quanto à nocividade e a procriação impensada, se nossas crianças recebessem amor antecedente ao orgulho de seus pais em exibi-las imaculadas ao meio, se assim fosse, poderia ser que nós, seres humanos, confusos e mal dirigidos, não conflitássemos tanto entre o direito ao amor e ao prazer e o dever em obedecer quem nem feliz foi um dia para nos dizer.
É angustiante vivenciar, experienciar, dividir, ouvir as dúvidas entre a obrigatoriedade, a atividade sexual imposta pela vida moderna e a proibição que nasce da confusão dos valores familiares e sociais, diante da escolha de usar o que Deus permitiu. Nossos jovens estão sofrendo, se entregando de mais ou de menos. Adoecendo, engravidando, atrofiando seus sexos, confundindo suas mentes e as famílias, cada dia mais, se eximindo da responsabilidade em orientar. É tão mais fácil orientar, pois os problemas que surgem do abandono transformado em permissividade, transtornam milhões de vezes mais, ocupam muito mais, entristecem e dissipam desmedidamente e desesperadamente as famílias, que alguns minutinhos de amor, dedicados aos anjos, que não trazem na memória a receita de como conduzir suas vidas.
Você errou muito, confesse peça que não repitam seus erros. Você acertou, mostre com exemplos. Você não tem história para contar, indique alguém de sua confiança. Seu filho não vem pronto. Você tem vergonha de tocar em certos assuntos, você pode se revelar através de algumas manifestações, você ainda quer que ele acredite que a cegonha o trouxe? Acha mesmo que a indústria pornográfica vai orientar melhor que você? Ela até coadjuva, ilustra, mas não substitui a intenção sincera e amorosa que encara o risco da má interpretação, da chatice adolescente, mas que não abre mão em proteger do sofrimento. Acha mesmo que ele tem que aprender na rua, nos banheiros dos shoppings ou dos colégios?
Você ama o seu filho?