Vinde a mim as criancinhas porque delas é o meu Reino

Artigo: "Vinde a mim as criancinhas porque delas é o meu Reino", por Jussara Hadadd. Foto: Hulki Okan Tabak

Artigo: "Vinde a mim as criancinhas porque delas é o meu Reino", por Jussara Hadadd. Foto: Hulki Okan Tabak

É uma lástima, que ainda hoje, em um mundo onde todo esclarecimento é possível e completamente acessível, crianças inocentes ainda sejam vítimas dos desatinos de seus pais. A psicologia moderna, o diálogo aberto, a cognição ampliada e a inteligência explorada de todas as maneiras, não são suficientes para que as crianças sejam respeitadas, como é imposto hoje em dia, pelas leis que as protegem. No tempo das surras de cinturão, dos beliscões e dos castigos e tiranias, talvez, meninos e meninas fossem mais poupados das loucuras praticadas pelos adultos, dentro de casa.

São muitos os atos incoerentes, inconsequentes e capazes de gerarem distúrbios de toda natureza na formação de crianças que um dia se tornarão adultos, condutores de novas famílias, líderes empresariais e governantes de alguma parte do mundo. Não temos aqui, condição de citar com minúcias e detalhes cada um desses atos, entretanto, um bastante pertinente ao nosso trabalho, não poderia continuar omitido.

A irresponsabilidade dos pais perante seus filhos menores ante de suas necessidades extraconjugais de relacionarem-se sexualmente, está cada dia mais abrangente e os consultórios de terapias para crianças, cada dia mais lotados de meninos e meninas que muito cedo em suas vidas passam a conviver com este tipo de realidade.

Infidelidade e má conduta entre os casais sempre existiram na história da humanidade. A hipocrisia que cerca as relações estáveis também, contudo, antigamente, as crianças eram poupadas por esta mesma farsa que acabava por agir de forma benéfica a elas. A hipocrisia, hoje, justifica-se somente aos interesses dos casais e para fora do âmbito familiar. Muitos casais, mantém as aparências, perante a sociedade e em detrimento à saúde mental de seus filhos. As crianças que sejam fortes e participem de toda e qualquer sordidez que envolva o estado de covardia em que os casais se mantém após descobrirem que não se querem mais.

Lembro-me de quando criança e membro de uma família numerosa, várias vezes ter ouvido sussurros das mulheres mais velhas comentando sobre seus maridos ou sobre alguém da vizinhança que havia cometido adultério, homem ou mulher, ou ainda sobre a existência das prostitutas ou dos cafajestes e da preocupação em poupar as crianças de tais fatos. — Cuidado, o fulaninho vem vindo ai, mudem o assunto.

Ainda hoje, em decorrência deste sigilo, vemos filhos adorarem e idolatrarem pais que foram verdadeiros canalhas com suas mães. Mães sábias que os pouparam dessas desventuras, protegendo, mesmo que em pleno sofrimento a imagem do senhor provedor daquele seio familiar. Vejo também filhos hipócritas, vítimas de mulheres fracas e covardes idolatrarem a imagem desses homens em meio a uma atmosfera, de família feliz instituída sabe-se lá porquê. Mas este não é o caso aqui. Tinha no passado toda uma aura de falsidade e repressão que de certa forma, mantinha o “respeito” dentro das famílias.

Respeito, sentimento que não envolvia de forma alguma as crianças daquele tempo e que hoje é tão imposto pelos órgãos que as protegem. O respeito não é praticado dentro dos “lares” e estes mesmos órgãos são incapazes de observar, verdadeiramente onde as doenças psíquicas se originam nas crianças. Fala-se de tudo. De fome, de maus tratos, de violência sexual, mas camuflam este tipo de atitude, talvez, por se tratar de algo verdadeiramente polêmico. Famílias acima de qualquer suspeita, flagradas invadindo a vida de seus filhos com informações calibradas de perversidade, permitidas à guisa de enorme hipocrisia social.

É valido observar que os acessos nos tempos antigos também eram bastante limitados. Telefonia, transporte e mídia eram artigos de luxo e com isto, atitudes vis passavam despercebidas por muito tempo, ou mesmo por uma vida inteira ou até que algum escândalo se instaurasse na família. Quem já não ouviu falar de segundas famílias que foram mantidas para sempre, em segredo. De filhos bastardos que nunca chegaram ao conhecimento das relações oficiais, das gravidezes concebidas fora de casa, e se o filho não fosse de outra raça, sem os testes de DNA, ninguém jamais suspeitaria? Sempre houve isso.

O que desmantela as tradições e o convencionalismo em que as famílias cristãs insistem em manter até hoje é a facilidade com que as informações chegam a seus membros. As vias para mentir e enganar estão muito potentes, entretanto, estas mesmas vias denunciam seus usuários.

Mães que não cuidam de proteger seus filhos de seus rompantes de angústia perante a solidão de sua vida conjugal ou perante a paixão por um amante que a alivie. Mães que subestimam a inteligência desses pequeninos seres e relacionam-se por telefone, internet ou mesmo pessoalmente, supondo não serem vistas ou descobertas. Conversas em sites de relacionamentos, armazenadas por descuido nos computadores compartilhados, torpedos românticos nos celulares e muito mais à disposição da decepção do filho que acreditava que a sua família era diferente e especial.

Pais descuidados que deixam seus rastros sexuais em revistas eróticas, canais de sexo explícito na televisão e links para sites de pornografia registrados nos computadores que são compartilhados por toda a família. Pais que se envolvem com mulheres escandalosas, que não medem esforços em arruinar uma família, levando à tona seus envolvimentos obscuros. As rodinhas de meninas nas escolas, tratam desses assuntos.

Pais e mães displicentes que discutem sobre as desavenças de sua intimidade perto dos pequenos. Ufa! Esta é uma questão que não quer calar, mas da qual não se pode falar abertamente nas escolas, nas igrejas, nos lares e nem tão pouco nas entidades destinadas à sua proteção. Que pena cada dia mais desajustados são desovados no mundo inteiro.

Na contra mão do nosso assunto, o amor e o sexo dos casais, enquanto existe, é escondido e disfarçado para não molestar as crianças. Quanto engano. Crianças se sentem felizes em ouvir os sussurros de amor de seus pais, em vê-los beijando-se demoradamente, acariciando-se, conversando e sorrindo um para o outro. Tem a certeza da felicidade entre eles e são beneficiadas com a harmonia gerada em casa por um casal de verdade.

Enquanto brincamos de casinha e castelinhos de areia em relações sem nenhum fundamento, seres humanos são formados da pior maneira possível por pais que se dizem capazes de amar.

Diga “com licença”, “por favor”, “estou satisfeito”. Não tire melecas em público, não falem palavrões, não desminta os adultos. Vá jogar seu vídeo game, assistir seu programa preferido ou brincar com a babá que o papai e mamãe pagam com tanto sacrifício para você. Vamos ao Shopping, à churrascaria, à pizzaria?

Eu te amo, meu filhinho.

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