É de mim que tenho mais saudade

Artigo "É de mim que tenho mais saudade", por Jussara Hadadd

Artigo "É de mim que tenho mais saudade", por Jussara Hadadd

É muito comum ouvirmos mulheres de todos os tipos queixando-se de suas vidas, principalmente quando estão há muito tempo envolvidas com alguém. Queixam-se de que não dançam mais, que não cantam, que não exercem a sua sensualidade, que estão ficando velhas e secas mais depressa do que imaginavam. Queixam-se da falta de romantismo em que suas vidas se inseriram. Queixam-se dos homens que amam e dos filhos que este amor gerou. Queixam-se de Deus e do mundo ao seu redor. Chegam quase a se arrepender da opção de partilhar a vida com alguém.

Numa relação estável é muito comum que a mulher conste como a parte menos conformada da situação e que logo, com poucos anos de convivência, se sinta anulada e cobrando caro toda a dedicação dispensada ao convívio (ao bom e sereno convívio), entre ambos.

Um erro muito frequente está intrínseco ao fato de a mulher fantasiar demais antes de se relacionar intimamente e estavelmente com um homem. Além disso, ela tem uma enorme tendência a se responsabilizar por toda a felicidade que o casal possa ter e mais tarde, cansada de assumir sozinha todos os sonhos e as ilusões de romance eterno entre os dois, ela passa de fada encantadora a bruxa cobradora.

Não que os homens não tenham sua parcela de responsabilidade na monotonia e falta de graça que circunda a vida do casal, é claro que tem. Eles poderiam ao menos prestar atenção ao que é manifestado pela sua mulher como fator de contentamento dentro do relacionamento. Sair para dançar com ela uma vez por mês, elogiar sua postura e aparência de vez em quando, isso não mata ninguém, convenhamos. Acontece que, com sua natureza hermética, o que é uma característica de grande parte dos homens, não participa dos planos da parceira para uma vida cercada de emoções e contribui sobremaneira para a falência de todo e qualquer projeto de comporem um casal diferente.

A mulher que sonha alto demais e tem uma enorme dificuldade em se adaptar a uma vida a dois mais serena e quase isenta dos suspiros dos contos de fada, sofre verdadeiramente. Frustra-se, entristece e se revolta.

No sexo não é muito diferente. O comportamento sexual é inerente ao sucesso da relação. Não existe bom relacionamento conjugal sem bom sexo e não existe bom sexo sem um bom relacionamento conjugal. O que às vezes abala esta estrutura é o fato de um dos dois, e muito mais as mulheres, acharem que em toda vez que o sexo acontecer, ter que ser algo perfeito e cercado de sentimentos, emoções, fantasias, pétalas de rosas, velas e todo o tipo de aparato que deve sim ser usado o máximo possível, mas que às vezes é perfeitamente dispensável. E no caso deles… Precisa mesmo falar?

São normalmente nestes momentos que a saudade bate forte na mulher. É muito nesta hora também que ela tende a se sentir usada, termo muito comum para explicar o descontentamento feminino perante o sexo com o parceiro. Se sente usada como um objeto de prazer sem que haja com ela a mínima observação, o mínimo elogio ao seu corpo bem tratado, a maciez da sua pele cultivada com a intenção de sempre agradar, com o perfume na medida certa, com os esforços para se revelar a cada dia uma amante indescritível.

A saudade vem como um grito de socorro e desejo de se ver novamente cortejada, seduzida e conquistada pelo homem que ela ama. E ela se remete a um tempo em que até uma simples cruzada de pernas era objeto de fascínio para ele. A um tempo onde ela podia até se dar ao luxo de dizer “não”, “fica quieto”, “agora não é hora disso”, entre risinhos mal intencionados. A saudade vem da incompreensão ao comportamento masculino que denota claramente que após conquistar a sua presa, faz com ela um sexo com cara de simples masturbação, desprezando todo seu empenho para manter o relacionamento em alto nível de desejo e satisfação. Elegância e cavalheirismo podem resolver isto.

Lembrei-me agora de um fato interessantíssimo. É publico que, hoje em dia, as mulheres casadas, maduras, mães de família, estabilizadas profissionalmente, estão usando todo tipo de artifícios que as equiparem às profissionais do sexo para manterem fieis os seus maridos. E elas são campeãs, porque fazem isto por adivinhação tendo em vista a dificuldade do homem em manifestar para as parceiras fixas, as suas mais secretas fantasias eróticas. “Não se fala dessas coisas com a mulher da gente”. Andam ávidas por produtos de Sex shops. Espartilhos, algemas, chicotes, cremes que esquentam, cremes que gelam, calcinhas com sabor, ufa. Uma parafernália, capaz de montar um cenário de filme pornô. E nem sempre dá certo, isto é o pior. São classificadas como ridículas.

Segurança, autenticidade no comportamento diário, cuidado básico com o corpo e a saúde, equilíbrio e contentamento com ela própria, pode ser a chave para uma relação plena a dois. Bom senso costuma também ser a solução certa para evitar conflitos de toda natureza. Pode ser o tiro certeiro.

O homem que também espera que sua parceira seja sempre aquela tigresa voraz que o fazia sentir-se como o único na face da terra, tem que dar um desconto aos períodos onde ela se volta mais para a família, para os filhos, para o crescimento profissional, ou onde a TPM impera e reina como déspota. Nestas horas é bom usar a razão e a ponderação para acalmar os seus ânimos e não sair por aí fazendo besteiras que coloquem em risco um amor que tinha tudo para dar certo. Paradoxalmente, a saudade dele bate exatamente no tempo em que ela fazia de tudo para que a vida deles fosse um turbilhão de emoções, mas na maioria das vezes ele nem sabe explicar isto.

O remédio, como sempre, é manter a cabeça fria e não se entregar a impulsos que levem a atitudes inconsequentes e capazes de causar muito sofrimento. Cada um tem a sua receita e a sua medida, basta usar.

Sexo, amor, paixão e coerência, é possível! Talvez machuque menos.

 

Este artigo também foi publicado no portal Acessa.com leia

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